Economia
Ativistas negras defendem recorte racial no debate sobre cuidado

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano – “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” – gerou uma série de discussões na mídia, escolas e sociedade em geral. Parte da invisibilidade mencionada na prova se deve ao fato de a maior parte das mulheres envolvidas no trabalho do cuidado serem mulheres negras. Essa é a opinião de pesquisadoras e ativistas ouvidas pela Agência Brasil, que observaram a falta de referências à dimensão racial.
De acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as mulheres negras equivalem a 45% das pessoas que atuam em serviço de cuidados. As mulheres brancas são 31%; e os homens, sejam brancos ou negros, equivalem a 24%.
“No Brasil, a gente tem uma grande dificuldade de reconhecer mulheres negras independente do posto de trabalho. A gente tem uma grande dificuldade em reconhecer as potencialidades de mulheres negras”, assinala a historiadora Janaína Costa, autora da dissertação de mestrado “Quantas histórias cabem em uma narrativa – deslocamentos, desigualdade e desafios na história cotidiana de trabalhadoras domésticas no Brasil”.
Janaína considera que o próprio enunciado no Enem, ao delimitar apenas o recorte de gênero, contribuiu para invisibilizar as mulheres negras. “A perspectiva que não racializa a discussão não traz para o debate aquelas que historicamente são prejudicadas”, complementa pesquisadora e criadora da página Ela é só a babá, que discute o trabalho doméstico a partir de experiências pessoais e estudos acadêmicos.
A ativista negra Valdecir Nascimento (foto de destaque), do Odara – Instituto da Mulher Negra, acompanha 20 meninas que fazem cursos de formação complementar na organização para participar do Enem. Ela celebra o tema da prova e o aumento da discussão em torno da pauta do trabalho do cuidado, mas acha fundamental o alerta sobre a presença do próprio racismo no contexto da invisibilidade. “Eu não consigo pensar em mulher e no cuidar no Brasil sem pensar nas mulheres negras”, ressalta Valdecir.
Valorização
A mão de obra feminina e negra dedicada ao cuidado está entre as principais características de uma das ocupações com mais tipos de postos de trabalho no país. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, o subsetor de serviços domésticos equivale a 25,4% dos postos de trabalho do setor de serviços – que representa 95,5% das ocupações no conjunto total atividades econômicas. O Ipea mapeou 70 ocupações no círculo do cuidado.
Os estudos do Ipea e do MDS foram publicados em 2023 e tiveram em sua elaboração a coautoria da socióloga e economista Luana Simões Pinheiro (foto), diretora de Economia de Cuidado na Secretaria Nacional da Política de Cuidado de Família do MDS. Para ela, o trabalho do cuidado tem duas clivagens: a divisão sexual e a divisão racial.
“Sempre se associa as mulheres ao trabalho de cuidado como um grupo homogêneo, como se todas fossem iguais. Mas entre essas mulheres há desigualdades.” Conforme a diretora, as mulheres negras estão na base da pirâmide social, em atividades como empregadas domésticas, babás, cuidadoras de crianças em creches, cuidadoras de idosos em residências e auxiliares de enfermagem.
Com o envelhecimento da população brasileira, flagrado no Censo 2022, a oferta de ocupações de cuidado tende a crescer. Isso poderá elevar esses postos de trabalho da base da pirâmide social. “Nós não valorizamos o cuidado e não valorizamos as pessoas que realizam esse cuidado”, lamenta Janaína Costa.
Luana Pinheiro concorda. “A gente continua falando de categorias que não têm carteira assinada e contam com uma renda muito menor do que outras ocupações. Temos que pensar outras estratégias para garantir essa valorização.”
“Eu considero que essas categorias devem se organizar e reivindicar respeito, dignidade e reconhecimento do trabalho. Nós estamos vivendo uma experiência mundial de discutir a questão do cuidado”, propõe Valdecir Nascimento.
Políticas Públicas
Na última semana, durante o encerramento da Semana Nacional de Inovação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), foi anunciado o tema do evento do próximo ano: “Novas Formas de Cuidar”. A secretária nacional da Política de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Laís Abramo, reconheceu como um grande desafio a implementação de políticas públicas nessa área.
“O cuidado é um direito e uma necessidade de todas as pessoas. É fundamental para a reprodução da vida e o bem-estar das pessoas, assim como para o funcionamento das sociedades e das economias”, destacou.
“Precisamos, portanto, pensar em como transformar uma sociedade de mulheres – especialmente mulheres negras e periféricas – sobrecarregadas pelo trabalho de cuidado em uma sociedade de cuidados, uma sociedade que tenha no seu centro a sustentabilidade da vida, da vida das pessoas e da vida do planeta.”
Economia
Crédito extraordinário para o INSS não está em discussão, diz Haddad

A abertura de um crédito extraordinário no Orçamento de 2025 para ressarcir aposentados e pensionistas que sofreram descontos indevidos não está em discussão, disse nesta quinta-feira (15), em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo ele, o governo ainda avalia o tamanho das retiradas não autorizadas de segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O ministro reiterou que o uso de dinheiro público para reembolsar os aposentados e pensionistas só será feito em último caso. Isso ocorrerá se o dinheiro recuperado das entidades envolvidas nos descontos indevidos for insuficiente para cobrir o ressarcimento.
“Não começamos a tratar disso [crédito extraordinário ao INSS] porque ainda não temos uma estimativa do volume de recursos necessários. Temos que esperar para saber qual é efetivamente o tamanho do problema e o que não vai poder ser ressarcido por recursos das próprias associações. Já é pedido o bloqueio de bens. É uma série de questões que quem fraudou tem que pagar”, afirmou Haddad.
Limite de crescimento
Pelo arcabouço fiscal, créditos extraordinários não contam para o cumprimento da meta de resultado primário e estão fora do limite de crescimento dos gastos em até 2,5% acima da inflação do ano anterior. No entanto, esses créditos resultam em aumento da dívida pública do governo.
No início da noite, o Palácio do Planalto divulgou que o número de pedidos de reembolso ao INSS atingiu 1.051.238 em dois dias de funcionamento do sistema de notificações.
O número de entidades envolvidas continua em 41. Na quarta-feira (14), cerca de 578 mil aposentados e pensionistas haviam comunicado descontos indevidos nos benefícios, com cerca de 473 mil comunicando hoje.
Motociclistas
O ministro não confirmou se uma proposta do Ministério do Trabalho e Emprego de uma linha especial de crédito para motociclistas faz parte do pacote ou se está sendo analisado separadamente. “Ainda não há modelo fechado. Não tem pacote da semana que vem. Existe um conjunto de medidas que são corriqueiras”, declarou.
Diferentemente da elevação do Bolsa Família, a linha de crédito especial para troca de motos não teria custo para os cofres públicos. Os financiamentos com juros mais baixos seriam concedidos pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, mas o governo ainda não definiu se o crédito atenderia apenas a entregadores ou a todos os motociclistas.
Economia
BNDES lucra R$ 5,6 bi no primeiro trimestre de 2025, alta de 7,3%

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta quinta-feira (15) um lucro líquido de R$ 5,6 bilhões no primeiro trimestre de 2025. Em comparação com o mesmo período de 2024, houve alta de 7,3%.
A demanda por crédito também aumentou no período. As aprovações somaram R$ 33,3 bilhões, aumento de 35% em relação ao primeiro trimestre de 2024. Os desembolsos foram de R$ 25,2 bilhões, alta de 8% em relação ao mesmo período do ano passado.
O BNDES destaca o aumento de 100% na infraestrutura (R$ 13,2 bilhões). E cita o projeto aprovado de R$ 7,3 bilhões para a EcoRioMinas Concessionária de Rodovias S.A. investir em três rodovias federais (trechos da BR-116, BR-465 e BR-493) entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, que abrangerão 36 municípios nos dois estados. Também há menção ao apoio de R$ 2,4 bilhões para a expansão da Linha 2-Verde do metrô de São Paulo (SP).
Os números do banco mostram crescimento nas aprovações de crédito para o setor de comércio e serviços de 20% (R$ 5,3 bilhões), de 9% (R$ 7,4 bilhões) para a agropecuária e de 7% (R$ 7,4 bilhões) para a indústria.
O apoio dado às micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) foi de R$ 34,7 bilhões, alta de 87,7% na comparação com mesmo período de 2024. As aprovações de crédito foram de R$ 13,2 bilhões e as garantias prestadas por fundos garantidores em operações realizadas por agentes financeiros chegaram a R$ 21,5 bilhões.
“O lucro líquido continuou crescendo, assim como as aprovações de crédito em todos os setores da economia, mesmo com uma taxa de juros bastante difícil e num cenário geopolítico muito desafiador”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em nota.
Em relação ao lucro líquido, o primeiro trimestre registrou R$ 5,6 bilhões, 7,3% acima do resultado no mesmo período de 2024. O lucro líquido recorrente de R$ 2,7 bilhões ficou estável, com variação de 0,9%.
O lucro total foi influenciado principalmente pelas receitas oriundas das reversões de provisão para risco de crédito de R$ 1,5 bilhão, liquida de efeitos tributários, e pelo recebimento de dividendos e juros sobre o capital próprio de R$ 0,8 bilhão, oriundos de Petrobras. O patrimônio líquido atingiu R$ 168,2 bilhões no trimestre, aumento de R$ 9,8 bilhões em relação ao trimestre anteriores.
Os ativos totais do Sistema BNDES foram de R$ 861 bilhões, aumento de R$ 20 bilhões (2,4%) em relação a dezembro de 2024.
A inadimplência registrada foi de 0,001% (90 dias), o que o BNDES considera expressivamente inferior à do Sistema Financeiro Nacional (3,22% geral e 0,33% para grandes empresas em março de 2025). Segundo o banco, isso é evidência da “solidez da carteira de crédito do BNDES”.
Economia
Custo de cesta básica ideal para uma pessoa chega a R$ 432 em abril

Levantamento do Instituto Pacto Contra a Fome mostrou que a cesta básica ideal para uma alimentação saudável no Brasil teve um custo de R$ 432 por pessoa em abril deste ano. Isso representa 21,4% da renda média per capita dos brasileiros, estimada em R$ 2.020, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados no último dia 8 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados constam na edição de maio do Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação dos Alimentos, realizado pelo instituto. A publicação revelou ainda que mais de 70% da população brasileira não tem renda suficiente para arcar com os custos dessa alimentação adequada e com as demais despesas.
Além disso, a entidade ressalta que mais de 10% da população vive com uma renda inferior ao valor total da cesta, o que equivale a cerca de 21,7 milhões de pessoas.
“Essa estimativa revela que, mesmo sendo um direito garantido, a alimentação adequada está fora do alcance da maioria da população. Nosso objetivo é evidenciar a distância entre a garantia constitucional e a realidade econômica das famílias”, afirmou, em nota, o gerente de Inteligência Estratégica do Pacto Contra a Fome, Ricardo Mota.
Sem monitoramento contínuo e políticas públicas efetivas e baseadas em evidências, o enfrentamento da insegurança alimentar continua ineficaz.
Para calcular o custo da cesta ideal, o instituto usou como base a cesta do Núcleo de Epidemiologia e Biologia da Nutrição (NEBIN), da Universidade de São Paulo (USP), composta por alimentos in natura e minimamente processados, alinhada ao Guia Alimentar para a População Brasileira e à Comissão EAT-Lancet.
Inflação
Segundo o boletim, o impacto da inflação alimentar é até 2,5 vezes maior para famílias vulneráveis do que para as de alta renda.
A publicação destaca a pressão dos preços do setor alimentício na inflação do mês de abril. O grupo de Alimentação e Bebidas subiu 0,82% no mês, com destaque para a alta expressiva nos preços da batata (18,29%), tomate (14,32%) e café moído (4,48%) – alimentos que lideraram o impacto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
No mesmo mês, o índice geral [IPCA] ficou em 0,43%, o que reforça o peso desproporcional da inflação de alimentos sobre o custo de vida das famílias, principalmente as de menor renda, concluiu o Pacto Contra a Fome.
A avaliação do instituto é que, embora haja queda em produtos como arroz (-4,19%), mamão (-5,96%) e feijão preto (-5,45%), a pressão inflacionária continua concentrada em itens essenciais e in natura, sensíveis a variações climáticas e sazonais.
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