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Internacional

Para especialistas, repatriação de brasileiros é vitória diplomática

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Especialistas em Relações Exteriores consideram a operação para repatriar o grupo de 32 pessoas que estava na Faixa de Gaza como uma vitória da diplomacia brasileira, sob o comando do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

O grupo cruzou a fronteira com o Egito, pelo Portal de Rafah, na manhã deste domingo (12) e deve embarcar para o Brasil nesta segunda (13). Segundo eles, mesmo com a demora na inclusão da lista de pessoas autorizadas a cruzar a fronteira, a diplomacia mostrou capacidade de negociação e coordenação nas ações.

O professor de Política Internacional e Comparada do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas (UFMG), Dawisson Belém Lopes disse à Agência Brasil que, com o retorno dos brasileiros, o Brasil conseguiu fazer valer o peso da sua tradição diplomática:

“Isso é muito importante, porque mesmo não sendo um dos países que se alinham automaticamente a Israel, o Brasil sempre busca, em relação a esse conflito israelo-palestino que se arrasta há décadas, uma posição de equidistância e defende a solução de dois Estados [de Israel e da Palestina].”

“Mesmo tendo esse engajamento crítico em relação ao tema, o Brasil, ainda assim, fez valer o peso da sua tradição, a capacidade de trazer para o seu território os seus cidadãos e isso me parece muito positivo. É um sinal que é emitido, que mostra a importância do Brasil no contexto das nações”, afirmou o professor.

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Para professor Dawisson Belém Lopes retorno dos brasileiros faz valer peso da tradição diplomática do país – Arquivo pessoal

Na avaliação de Lopes, mesmo que nas primeiras listas de pessoas autorizadas a deixar Gaza constassem nomes de estrangeiros de países mais alinhados com Israel, o Itamaraty soube conduzir bem as tratativas para repatriar os brasileiros. A primeira lista, que saiu na quarta-feira dia 1° de novembro, autorizou um grupo de 450 estrangeiros a deixar o enclave.

Dos 3.463 estrangeiros autorizados a sair da Faixa de Gaza até a última quarta-feira (8), 1.253 têm passaporte dos Estados Unidos, o que representava 36,1% do total. O principal aliado de Israel na guerra que o país declarou contra o Hamas lidera a lista de nacionalidades autorizadas a deixar a região, até agora.

Além dos Estados Unidos, outros oito países tiveram mais de 100 nacionais autorizados a sair da Faixa de Gaza. Essas nove nações somam 86% do total de estrangeiros autorizados a cruzar a fronteira com o Egito. A segunda nacionalidade mais beneficiada foi a Alemanha, com 335 pessoas, o que representa 9,6% do total. Os brasileiros só foram incluídos na sétima lista.

“Neste momento, Gaza é o território que sofre uma investida militar muito intensa de Israel e, naturalmente, todo mundo que está naquele território está correndo risco de morte. Por isso que é tão importante, tão urgente, repatriar os brasileiros. E, no agregado, eu diria que o Brasil conseguiu não só o objetivo de trazer essa primeira leva de brasileiros, os que primeiro haviam solicitado o retorno, repatriação, mas também em um tempo célere, porque se considerarmos que nas levas anteriores vieram praticamente apenas aqueles cidadãos dos países que são aliados de primeira hora de Israel, o Brasil conseguiu negociar bem os termos dessa repatriação”, apontou o professor.

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Lopes avaliou ainda que a relação com Israel sofreu um desgaste após o episódio envolvendo o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, que participou, na quarta-feira (8), na Câmara dos Deputados de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e parlamentares de direita. Na ocasião, ele exibiu um filme com imagens do ataque do Hamas no dia 7 de outubro.

“É natural que haja um estranhamento brasileiro em relação ao que foi feito, sobretudo pelo embaixador de Israel no Brasil. Me parece que ele cruzou uma linha. Ele tentou por caminhos que não são os mais aconselháveis na prática diplomática convencional. Ele tentou influenciar os rumos do debate doméstico brasileiro, envolvendo inclusive um político cujos direitos políticos foram caçados. Um político inelegível, um ex-presidente da República. Isso é grave, me parece problemático.”

Entretanto, Lopes não acredita em uma mudança na relação diplomática com Israel, já que o Brasil tem relações históricas com o país do Oriente Médio.

“Há relações entre os dois Estados que são importantes, que extrapolam o nível governamental, que vão além do atual governo de Israel. Então, isso deve ser sempre calculado com muita calma, com muita cautela, com muita racionalidade. Esse é o domínio da diplomacia. A diplomacia não pode reagir de forma temperamental. Tem que sempre ser muito racionalizada essa resposta do Estado brasileiro. Então, eu acho que essa relação vai passar por uma reavaliação a partir de agora, mas eu não vejo no meu horizonte a perspectiva de ruptura”, avaliou Lopes. “A questão é intrincada, nós sabemos que ainda há muitos brasileiros em território palestino”, concluiu.

Neste domingo (12), em entrevista à imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi questionado sobre o episódio envolvendo Zonshine, mas limitou-se a dizer que não o conhecia: “não conheço”. O chanceler não respondeu sobre a possibilidade de convocar Zonshine para dar explicações sobre a reunião. Na linguagem diplomática, convocar um embaixador estrangeiro é um gesto importante e que demonstra a gravidade de um assunto para o país anfitrião.

Diplomacia

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Bruno Fabrício da Silva considera operação de repatriação uma vitória da diplomacia brasileira – Arquivo pessoal

O monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (Opeb), curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Bruno Fabrício da Silva considera que a operação de repatriação também representou uma vitória da diplomacia brasileira, mas que houve uma demora “excessiva”, para autorizar a saída de cidadãos de países aliados de Israel, como os Estados Unidos e a maioria das potências ocidentais.

“A participação direta do presidente e do corpo diplomático em negociações com as autoridades israelenses, palestinas e egípcias destaca o comprometimento do Brasil em proteger seus cidadãos em situações de conflito. Além disso, o suporte oferecido durante o período em Gaza como garantir recursos essenciais e alertar sobre a localização do grupo às autoridades israelenses mostra a atuação proativa da diplomacia brasileira em situações de crise”, afirmou da Silva à Agência Brasil.

Para o pesquisador, após a repatriação, o Brasil pode se posicionar de maneira mais assertiva para condenar os ataques de Israel, como já indicado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou a situação como genocídio.

“O presidente Lula já demonstrou uma postura mais incisiva ao classificar os acontecimentos como genocídio e ao condenar energicamente as ações militares israelenses. A meu ver, a decisão de adotar uma postura mais incisiva pode envolver o risco de prejudicar as relações bilaterais com Israel e seus aliados, mas também pode ser percebida como uma resposta ética e humanitária à gravidade da situação”, avaliou.

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Ele aponta ainda que a repatriação dos brasileiros pode, no entanto, ser vista como um movimento alinhado com a postura de outros países sul-americanos, que aumentaram o tom diplomático em reação aos ataques israelenses em Gaza, a exemplo do Chile, da Colômbia, da Bolívia e da própria Jordânia, que convocaram seus embaixadores para consultas.

“A decisão de outros países sul-americanos de aumentar o tom diplomático também pode influenciar o Brasil a adotar uma postura mais firme. No entanto, em situações de crise humanitária e violações graves de direitos humanos, como no conflito entre Israel e Palestina, há pressões crescentes para que os Estados adotem posições mais firmes e expressem claramente sua posição ética e moral sobre os eventos”, pontuou da Silva.

“Em certas situações, é necessário mudar o paradigma diplomático e o peso do Brasil no sistema internacional pode, com uma decisão mais incisiva, de certa forma trazer uma visão mais dura à condenação das ações de Israel em Gaza”, acrescentou.

Colapso

A professora de História Árabe do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e atual diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, Arlene Elizabeth Clemesh, também considera que o Brasil deve subir o tom na relação diplomática com Israel.

Para a professora Arlena Elisabeth Clemesh Brasil deve sinalizar de forma clara discordância com postura de Israel- Arquivo pessoal
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Arlene avalia que o governo deve sinalizar de maneira enfática que não concorda com o que Israel vem fazendo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Ela também defende a revogação dos acordos militares e de segurança já firmados com Israel.

“É isso que se espera do governo brasileiro, agora que os brasileiros foram liberados. Também seria o caso de considerar uma sinalização de desagrado, na forma da chamada do nosso embaixador em Tel Aviv. Mas o mais importante é a ruptura dos contratos militares e de segurança. Só assim, com o cancelamento de contratos em vários países do mundo, o governo israelense será pressionado a parar o tratamento dado ao povo palestino”, disse a professora à Agência Brasil.

“Gaza, é muito importante que se entenda, colapsou. A sobrevivência hoje em Gaza é do mais apto, do mais resiliente, do que tem sorte de não ser ferido gravemente e conseguir se defender. Incubadoras foram desligadas por falta de energia elétrica e, até onde tenho conhecimento, dois bebês já faleceram. Não há condições mínimas de vida em Gaza. O que está acontecendo é uma combinação de genocídio com limpeza étnica”, criticou.

Arlene também disse que as primeiras listas de pessoas autorizadas a deixar Gaza só beneficiavam países com alianças estreitas com Israel, como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Ucrânia, mas apontou o retorno como um vitória da diplomacia.

“Os brasileiros eram poucos, comparados às mencionadas nacionalidades, que já estavam alocados próximo à fronteira com o Egito, próximo à passagem de Rafah”, observou.

“A libertação dos brasileiros de Gaza, para que pudessem vir ao Brasil em segurança, foi uma enorme vitória para a diplomacia e para o governo brasileiro. Desde os primeiros dias desse ataque a Gaza, o Escritório Permanente de Representação Brasileira na Palestina vinha trabalhando intensamente para organizar logística e diplomaticamente a saída dos brasileiros. O empenho foi muito grande em todas as esferas, mobilizando o Itamaraty, o chanceler e o próprio presidente Lula”, acrescentou.

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Internacional

Departamento de Estado dos EUA retoma vistos de estudantes de Harvard

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O Departamento de Estado dos Estados Unidos (EUA) orientou todas as missões norte-americanas no exterior e seções consulares a retomarem o processamento de vistos de estudantes e visitantes de intercâmbio da Universidade de Harvard, depois que um juiz federal em Boston bloqueou temporariamente, na semana passada, a proibição do presidente Donald Trump à entrada de estudantes estrangeiros na instituição.

Em telegrama diplomático enviado em 6 de junho e assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, o departamento citou partes da decisão do juiz, dizendo que a nova diretriz estava “de acordo” com a ordem de restrição temporária.

Segundo a ordem concedida a Harvard na noite de quinta-feira (5), a juíza distrital Allison Burroughs impediu que a decisão de Trump entrasse em vigor enquanto aguardava novas questões sobre o assunto.

Trump citou preocupações com a segurança nacional como justificativa para impedir que estudantes internacionais entrassem nos EUA para estudar em Harvard.

O governo americano lançou um ataque à universidade mais antiga e rica do país, congelando bilhões de dólares em bolsas e outros financiamentos e propondo acabar com seu status de isenção de impostos, o que desencadeou uma série de contestações legais.

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Harvard argumenta que a administração está retaliando porque a instituição se recusa a atender às exigências de controle da governança da escola, do currículo e da ideologia de seu corpo docente e alunos.

Em resposta a um pedido de comentário, o Departamento de Estado disse que não fala sobre comunicações internas.

No telegrama, o orgão acrescentou que todas as outras orientações relativas a vistos de estudante permanecem em vigor, incluindo a verificação aprimorada das mídias sociais e a exigência de revisar a presença online dos candidatos.

*É proibida a reprodução deste conteúdo.

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Internacional

Ativistas presos por Israel recebem assistência de embaixadas

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Movimentos e organizações de direitos humanos realizaram ato, na tarde dessa segunda-feira (9), em Brasília, pera pedir liberdade dos 12 ativistas presos por Israel em águas internacionais quando estavam a bordo do navio Madleen de ajuda humanitária, com destino à Faixa de Gaza, território palestino que sofre cerco total das forças israelenses.

A embarcação, que tinha como objetivo estabelecer um canal de acesso para transporte de alimentos e medicamentos a Gaza, pertence ao movimento Freedom Flotilla Coalition, que atua em ações humanitárias internacionais e promove campanha para acabar com o bloqueio ilegal israelense.

“A gente teve notícias de que o Thiago e todos os participantes estão bem, chegaram numa base militar. Não sabemos quais são os procedimentos [agora], se eles ainda serão detidos ou se vão ser imediatamente deportados, mas sabemos que as embaixadas estão em contato com todos eles”, afirmou Lara Souza, esposa do ativista brasileiro Thiago Ávila, que está entre os detidos. Segundo ela, Thiago está recebendo assistência consular da diplomacia brasileira. Além do brasileiro, estavam na embarcação de ajuda humanitária a sueca Greta Thunberg e mais dez ativistas.

Ministério das Relações Exteriores se manifestou, em nota, sobre a interceptação do Madleen, pedindo a liberdade dos seus tripulantes. A pasta lembrou que eles navegavam por águas internacionais.

A nota brasileira reforça ainda “a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante”.

Nascido no Distrito Federal, o ambientalista Thiago Ávila é coordenador da Freedom Flotilla Coalition. Além do brasileiro, estavam na embarcação de ajuda humanitária a ativista sueca Greta Thunberg e outros dez ativistas.

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A interceptação ocorreu logo após o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarar que havia instruído seu Exército a não permitir que a embarcação chegasse a Gaza. Na declaração, ele também informou que a tripulação seria escoltada e, em seguida, deportada.

De acordo com a nota do Itamaraty, as embaixadas da região estão sob alerta para prestar a assistência consular caso necessário, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e os direitos internacionais.

“Que a gente torne esse momento mais forte pelo fim do cerco ilegal a Gaza e o fim do genocídio [do povo Palestino]”, afirmou Laura Lemos, integrante da direção internacional da Flotilha da Liberdade. Ela também pediu que o governo brasileiro rompa relações diplomáticas com Israel.

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Internacional

Governo brasileiro pede libertação de ativistas detidos em Gaza

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O Ministério das Relações Exteriores publicou nota na manhã desta segunda-feira (5), após Israel interceptar o navio Madleen de ajuda humanitária que se dirigia a Gaza, neste domingo (8), e deter 12 ativistas, dentre eles o brasileiro Thiago Ávila.

“Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos”, destaca o comunicado.

A nota brasileira reforça ainda “a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante.”

A embarcação, que tinha como objetivo estabelecer um canal de acesso para transporte de alimentos e medicamentos à Faixa de Gaza, pertence ao movimento Freedom Flotilla Coalition que atua em ações humanitárias internacionais e promove uma campanha para acabar com o bloqueio ilegal israelense de Gaza.

Nascido no Distrito Federal, o ambientalista Thiago Ávila é coordenador da Freedom Flotilla Coalition. Além do brasileiro, estava na embarcação de ajuda humanitária a ativista sueca Greta Thunberg e outros dez ativistas.

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A interceptação ocorreu logo após o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarar que havia instruído seu Exército a não permitir que a embarcação chegasse a Gaza. Na declaração, ele também informou que a tripulação seria escoltada e em seguida deportada.

De acordo com a nota do Itamaraty, as embaixadas da região estão sob alerta para prestar a assistência consular caso necessário, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e os direitos internacionais.

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